29/01/2012 - Curitiba sofre com as dores do crescimento
A economia da cidade mais que dobrou de tamanho em sete anos. A expansão gerou mais empregos, mas também mais problemas – como produtos e serviços mais caros
A economia de Curitiba mais que dobrou de tamanho em sete anos. Em 2002, o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade era de R$ 20,2 bilhões, montante que cresceu 127% e alcançou R$ 45,8 bi¬¬lhões em 2009, gerando mais empregos, empresas e negócios. Mas junto com o crescimento econômico cresceram também os problemas na área de infraestrutura urbana e no aumento dos preços de produtos e serviços. Atividades cotidianas, como pegar um táxi em dias de chuva, dirigir do trabalho para casa, conseguir um quarto de hotel ou ir ao restaurante preferido po¬¬dem se tornar um desafio.
O trânsito se ressente da explosão da frota de veículos, que cresceu 20% desde 2007. A cada dez habitantes da cidade, sete têm automóvel. O boom imobiliário jogou para cima os preços dos imóveis, que acumulam valorização média de 39% em dois anos. Para completar, a compra do supermercado e o serviço de lavanderia estão mais salgados. A cidade teve a maior inflação no custo de vida do país em 2011. “Curitiba vive um ce¬¬nário típico dos grandes centros urbanos, em que a concentração de renda e de serviços em uma determinada região provoca forte pressão sobre infraestrutura e serviços públicos”, afirma o economista Christian Luiz da Silva, professor da Universidade Tecno¬¬¬¬lógica Federal do Paraná (UTFPR).
Terceira maior economia do estado, São José dos Pinhais deve começar neste ano a reformular o plano diretor para permitir a instalação da companhias de serv¬¬i¬ços de transporte em um novo distrito logístico, próximo ao Aero¬¬porto Internacional Afon¬¬so Pena.
Para o projeto virar realidade, ainda é necessária a construção de mais uma pista no aeroporto e a ampliação do terminal de cargas. Com a concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Vira¬copos (SP) e Brasília, a Infraero revelou em dezembro à Gazeta do Povo que pretende se fazer valer do terminal paranaense para concentrar suas ações de transporte de cargas – o que deve acelerar o andamento dos projetos.
A ideia de São José dos Pinhais é atender à demanda dos três estados do Sul e reduzir em pelo me¬¬nos 30% o volume de cargas da região que hoje vão a Guarulhos e Viracopos, em São Paulo.
A prefeitura também está em negociação com a UTFPR para levar um câmpus da universidade para lá. Além do setor automotivo, São José dos Pinhais tem um parque industrial formado por empresas de alimentos, cosméticos e instrumentos de alta tecnologia que podem se beneficiar de am¬¬bos os projetos.
As “dores” do crescimento ocorrem principalmente quando a economia avança mais rápido que a capacidade de planejamento do governo e das empresas. “Não crescemos tanto assim, mas mesmo assim não estamos preparados para isso”, diz.
Curitiba está mais cara também em decorrência da escassez de mão de obra e do aumento da renda e do emprego, segundo o economista Fábio Tadeu Araújo, professor da Pontíficia Univer¬si¬¬dade Católica do Paraná (PUCPR). “Isso fica evidente na alta dos preços dos serviços”, diz. Para ele, o zoneamento da cidade, que dá prioridade aos grandes eixos de transporte, acaba concentrando a população e o fluxo de veículos em determinadas regiões da cidade. “Com o boom imobiliário, esses dois movimentos se reforçam mutuamente”, afirma.
Projeto
Segundo o diretor administrativo e financeiro da Agência Curi¬ti¬¬ba de Desenvolvimento, Ma¬-noel Tadeu Barcelos, está sendo desenvolvido, em parceria com o Banco Interamericano de Desen¬volvimento (BID), um estudo que vai propor soluções para melhorar o fluxo de mercadorias e serviços em Curitiba e região. “Ele já está 60% pronto e devemos apresentá-lo em meados deste ano”, afirma. O BID está colocando US$ 1 milhão a fundo perdido no projeto, que deve ser pioneiro na América Latina.
Curitiba tem potencial para continuar a crescer em ritmo acelerado nos próximos anos – o que deve gerar mais pressões sobre a vida dos moradores da cidade. Segundo Barcelos, o desenvolvimento econômico é transversal a outras áreas, como saúde, segurança e educação, gerando novas demandas.
A solução para os problemas, porém, nem sempre é de fácil aceitação. “A cidade precisa ser repensada. No caso do trânsito, a julgar pelo avanço da frota, talvez se tenha de avaliar propostas como rodízio e pedágio urbano no futuro”, afirma Araújo, da PUCPR.
O desenvolvimento nos próximos anos também terá de passar pela integração efetiva com os municípios da região metropolitana, segundo economistas. “Hoje há uma integração de transporte, mas questões como o lixo, a segurança pública e o uso de terras mostram que estamos longe de um caminho para um desenvolvimento alinhado”, afirma Silva, da UTFPR. Sem esse alinhamento, os problemas da capital e das cidades vizinhas tendem a se agravar. “Isso depende de gestão política e visão de estado.”
Indústria deu lugar ao setor de serviços
Curitiba mudou mais fortemente seu perfil econômico na última década, quando o setor de serviços, em especial o ligado às áreas tecnológica e financeira, ganhou fôlego. Até então predominava o modelo industrial, inaugurado com a criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) na década de 1970, e a instalação de empresas como Volvo e Case New Holland.
“Hoje há poucas áreas para instalação de indústrias na cidade. O foco passou a ser tecnologia, pesquisa e inovação, principalmente a partir da criação do Tecnopar¬¬que”, diz o diretor administrativo e financeiro da Agência Curitiba de Desenvol¬vimento S.A., Ma¬¬noel Tadeu Bar¬¬celos. A cidade tem 150 empresas instaladas com incentivos no Tec¬¬noparque e no Parque de Soft¬¬ware, pagando um salário m鬬dio de R$ 2,5 mil.
Mas economistas defendem uma maior diversificação. “O risco de deixar de lado o setor industrial e se concentrar em serviços é que esse último apresenta alto índice de mobilidade. É muito fácil, para um banco, por exemplo, deslocar operações administrativas e de comando para outros locais. Diferentemen¬¬te de uma linha de produção’, afirma Christian Luiz da Silva, da UTFPR.
Araucária viu sua economia crescer 158% entre 2002 e 2009, para R$ 11,9 bilhões, principalmente pelo crescimento do polo petroquímico da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) da Petrobras. Com apenas 119 mil habitantes, a cidade tem hoje o maior PIB per capita do estado (R$ 101,4 mil).
No outro extremo, Piraquara, com um tamanho equivalente – cerca de 100 mil habitantes -, tem o segundo pior PIB per capita do estado, com uma renda por habitante de R$ 5.489. Com pouco potencial para atrair indústrias, devido às restrições de ordem ambiental, o município depende basicamente de repasses. Das receitas da cidade – de R$ 75 milhões – 70% vêm dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do ICMS.
Segundo o prefeito da cidade e presidente da Associação dos Municípios do Paraná, Gabriel Samaha, Piraquara, Fazenda Rio Grande e Almirante Tamandaré possuem hoje uma das menores receitas municipais per capita – entre R$ 750 e R$ 850 - bem abaixo da média do estado (R$ 1,2 mil).
Fonte: www.gazetadopovo.com.br